quarta-feira, 29 de julho de 2015

Segundo fôlego: começar de novo!



 Vanda Lopes Bicudo
*por Ayrton Luiz Bicudo 

Hoje em dia a nossa expectativa de vida é de pelo menos 90 anos. Como podemos pensar em parar de trabalhar aos 50? Essa questão relativa a essa perspectiva já se apresentou para mim há muitos anos, com a história de vida da minha mãe.

Mamãe sempre foi um exemplo de determinação. Não podendo estudar quando muito jovem, na época por uma limitação monetária e de cuidados com a família, após o casamento com papai e de ter a primeira filha, voltou pra escola e se formou na Escola Normal, para ser professora primária. Lembro-me bem das histórias dela com a Tia Carminha, estudando de noite, enquanto embalava a minha irmã Wandinha, na cadeira de balanço…

Focada e determinada como ela só, iniciou uma carreira espetacular, tornando-se Mestra em Educação e Psicologia e lecionando para muitas turmas de normalistas e colegiais. Até hoje é uma referencia em Mirassol – SP, cidade onde viveu grande parte da sua vida e onde eu nasci. Ao se aposentar, em torno dos 50 anos, pintou uma angustia muito grande: “e agora, o que eu vou fazer da minha vida profissional?”

Claro que ela tinha muita coisa pra fazer. Cuidar do papai que sempre foi super dependente dela e dos netos, cinco criaturinhas maravilhosas a quem ela se dedicava com todo o afeto que sempre lhe foi peculiar. Mas era pouco pra dona Wanda. Nessa época, eu em uma das férias na Festa de São Pedro, sugeri que ela começasse a escrever as receitas das delícias que sempre realizou na cozinha, principalmente as compotas, famosas na família e região.

Dona Wanda começou a escrever, colecionar e compilar as suas próprias receitas e as das amigas, além de pesquisar com todo mundo e experimentar tudo o que via, provava e achava que valia a pena. Depois de todos esses anos – e hoje ela está com 89 anos -, imagina o material que ela produziu e organizou! São mais de 40 títulos, separados por temas e assuntos, prontos para serem publicados e compartilhados com todos. Além das pesquisas na internet e do blog que ela mantém e alimenta com conteúdo da área de gastronomia. Minha sobrinha Izabella, generosamente, entrou na área, editou e publicou alguns dos títulos.

Pausa!

Pelo meu lado, eu também iniciei a minha carreira profissional como Arquiteto, formado pelo Mackenzie depois de vir estudar em São Paulo, me casar, constituir família e ficar por aqui há mais de 40 anos.  Desenvolvi a carreira e  trabalhei como diretor de arte, produtor de eventos, cenógrafo, assessor de imprensa e coordenador editorial em revistas, ao entrar para o meio editorial. Mas chegou uma hora em que aquilo tudo também já não me bastava mais. Sempre fui muito curioso e gosto de novos desafios. Quando já sei tudo sobre o trabalho que estou realizando, já não me atrai mais e preciso de um outro caminho, que me motive  e encante. Papai dizia que eu era muito fogo de palha, hoje sei que eu sou mesmo é ansioso e não gosto de rotina. Então estou sempre procurando inovação e oportunidades de novos negócios.

Por um acaso – daqueles que a vida é feita -, depois dos 50 anos, descobri com uma sobrinha da Doris a Mediação Transformativa de Conflitos e fui fazer formação, na Escola Superior do Ministério Publico, que naquele ano iniciava com a primeira turma. Pronto: começar tudo de novo! Escola, um ano de teoria, mais um ano de prática e lá estava eu, Mediador formado e louco para atuar. Continuei como voluntário na promotoria e ao conhecer todas as pessoas envolvidas com esse assunto e depois de fazer alguns cursos de especialização, detectei junto com a minha amiga, parceira e co-mediadora Alice Penna, que havia uma lacuna na publicação de livros com esse assunto.  Por ser uma assunto novo no Brasil, os livros brasileiros que a gente usava nos cursos geralmente não estavam mais sendo editados. O jeito era então xerocar os dos colegas ou professores, usar os estrangeiros em espanhol ou inglês e as apostilas indicadas e produzidas pelos mestres. Mas porque ninguém editava essas pessoas tão brilhantes e referencias na área?

Por mais uma coincidência, fomos visitar uma editora que estava começando e que tinha uma proposta nova de fazer títulos sobre demanda e e-books, além de publicar os novos autores e os livros especiais dos autores conhecidos – aqueles de gaveta e que nenhuma outra editora queria publicar. Essa proposta da Silvia Ribeiro na Editora Dash, nos encantou e propusemos a ela criar um selo e publicar os títulos de Mediação. Mais do que isso, criamos o selo Transformar para ampliar a ideia publicando também  tudo o que fosse novo e transformador, incluindo todas as outras práticas consensuais de resolução de conflitos.

Começamos a abordar e convidar as pessoas e grupos que já faziam artigos ou capítulos em livros coletivos e a preparar a publicação de livros que servissem não apenas como apoio e material didático para os cursos de formação de Mediadores e advogados, mas também aos leigos, disseminando a cultura da paz, da colaboratividade e da parceria. Isso está dando muito certo, já lançamos no ano passado o primeiro título “Uma outra verdade em Mediação” de Mirian Blanco Muniz e vamos lançar agora em abril no Rio e em São Paulo o segundo livro: “Caixa de Ferramentas em Mediação” de Tania Almeida. Duas autoras muito reconhecidas como Mediadoras e mestras e que já exercitavam a escrita, mas nunca haviam publicado individualmente. Estão na fila para serem editados mais alguns nomes e livros maravilhosos, que muito vão contribuir para formar e atualizar mediadores, além de disseminar a cultura da paz e transformar as relações e a comunicação, como propõe o conceito da Mediação e das Práticas Colaborativas.

Não satisfeitos apenas com isso, eu e Alice – inseparáveis Dom Quixotes -, resolvemos ampliar a atuação da Mediação na iniciativa privada, levando para o corporativo, além do atendimento das partes em conflitos já instalados, a utilização das ferramentas da Mediação na capacitação dos gestores e equipes, com o intuito de transformar o ambiente de trabalho, que hoje é muito competitivo, em colaborativo. A ideia é  transformar o ditado popular de que “manda quem pode e obedece quem tem juízo” em “sozinho vou mais rápido, mas juntos vamos mais longe e melhor!”.

 
Estou relatando este meu caminhar para voltar à mamãe e suas receitas: ao fazer contato com a editora Dash, contei dos títulos prontos da Dona Wanda, nessa altura uma bisavó muito querida e carinhosa e resolvemos criar a Coleção da Bisa. Uma compilação das receitas de todos os tipos, mas explicadas didaticamente pela professora, de uma maneira tão simples e fácil, que todo mundo pode aprender a cozinhar, ou ampliar e inovar na preparação dos quitutes para os amigos e família. Começamos então a formatar a primeira caixa de livros, o “Almoço da Bisa: Arroz, Feijão, Bife e Salada”. Dessa caixa, já lançamos no ano passado o Arroz e agora em maio sairá o Feijão. Subdivididos em Arroz+Feijão e Bife+Salada, que com capinhas separadas, pode ser comprado cada um individualmente, os dois pares o
A Bisa se revelou um grande sucesso editorial e os livros não param de vender! Foi adotado inclusive como material didático nos cursos de gastronomia da FMU e outras escolas. Temos na fila várias outras caixas como “Na feira com a Bisa”, “ Café e chá da tarde na Bisa”, além dos “Segredinhos da Bisa” -um guia dos curiosos, circulando pela gastronomia.
Voltando ao começo, o que me motivou a escrever esse artigo relatando esses dois “cases” é que com a expectativa de viver lúcido e produtivo até os 100 anos. Com as conquistas do conforto, alimentação e da medicina, não precisamos mais colocar o pijama e ficar em casa ao se aposentar e nem continuar fazendo uma atividade profissional que não nos agrade, somente para nos sustentar ou ter o que fazer. Hoje podemos escolher ser feliz e começar uma outra carreira. Temos tempo de vida, apoio, inteligência emocional e condições para isso.
Vamos questionar se a vida que estamos vivendo está boa e se a atividade profissional que estamos fazendo contribui para a nossa felicidade e longevidade. Senão, já é hora de mudar tudo e começar de novo! Descobrir um assunto que nos motive e emocione e partir pra luta como se tivéssemos de novo 20 anos.
E se você tem agora 20 anos e está começando uma jornada profissional, saiba que sempre é possível mudar e se transformar, se atualizar e produzir cada vez mais. Não somente pra acumular riquezas, mas para ter um propósito maior e contribuir para a sua própria felicidade, dos seus queridos e para a felicidade do mundo!
A vida agradece!!!
Nota:
Você pode encontrar os livros da Bisa e de Mediação nas melhores livrarias do Brasil, além do site da Dash que entrega fisicamente em qualquer lugar do mundo ou indica o caminho pra você baixar o seu e-book.
E se você tem aquele livro guardado ou a ideia de um maravilhoso, de qualquer assunto, pode nos procurar que vamos conversar para ver como viabilizar a publicação e dar vida à sua ideia, contribuindo para a sua felicidade e o aprendizado ou prazer de todos.
Contextualizando:
Carmen Nogueira Lopez – Tia Carminha, colega de escola e vizinha da mamãe, que se casou com o Tio Ley. Modelo de alegria e maravilhosa musicista amadora, que nos alegrava com seu piano e violão. Até hoje com mais de 80 anos, adora uma roda de samba.
Wanda Maria Ceccato –  irmã querida, Wandinha atualmente avó dedicada de dois meninos maravilhosos, fez a opção pela família, largou a faculdade mas nunca parou de “trabalhar” para todos como psicóloga clínica.
Izabella Ceccato – minha sobrinha, publicitária durante muitos anos, resolveu mudar de rumo para fazer o Schumacher College (UK). Hoje está super envolvida com sustentabilidade e é a fundadora dos portais Eco Rede Social e Eco do Bem financiamento coletivo.
Doris Bicudo – companheira inseparável de toda uma vida, formou-se em jornalismo, foi estilista e figurinista com confecção própria, voltou ao editorial e hoje, além de dirigir a redação de várias revistas customizadas, criou e faz parte do portal As Meninas on line, reunião de várias meninas experientes e reconhecidamente referencias em suas áreas de atuação.
Alice Penna e Costa – minha sócia, parceira e co-mediadora, com quem desenvolvo a edição dos livros e o trabalho na Mediação. Fez uma longa carreira em Comunicação e RP, teve agencia de publicidade, mas se encantou pela Mediação e começou tudo de novo! Hoje se divide para cuidar como avó, de duas meninas gêmeas e fofíssimas.
Silvia Ribeiro – Designer gráfica que trabalhou muitos anos na Companhia das Letras fazendo as capas dos livros e há dois anos tem a sua própria editora, a Editora Dash.
Entendeu como a coisa  funciona?