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Vanda Lopes Bicudo |
*por Ayrton Luiz Bicudo
Hoje em dia a nossa expectativa de vida é de pelo menos 90 anos. Como
podemos pensar em parar de trabalhar aos 50? Essa questão relativa a essa
perspectiva já se apresentou para mim há muitos anos, com a história de vida da
minha mãe.
Mamãe sempre foi um exemplo de determinação. Não podendo estudar quando
muito jovem, na época por uma limitação monetária e de cuidados com a família,
após o casamento com papai e de ter a primeira filha, voltou pra escola e se
formou na Escola Normal, para ser professora primária. Lembro-me bem das
histórias dela com a Tia Carminha, estudando de noite, enquanto embalava a
minha irmã Wandinha, na cadeira de balanço…
Focada e determinada como ela só, iniciou uma carreira espetacular,
tornando-se Mestra em Educação e Psicologia e lecionando para muitas turmas de
normalistas e colegiais. Até hoje é uma referencia em Mirassol – SP, cidade
onde viveu grande parte da sua vida e onde eu nasci. Ao se aposentar, em torno
dos 50 anos, pintou uma angustia muito grande: “e agora, o que eu vou fazer da
minha vida profissional?”
Claro que ela tinha muita coisa pra fazer. Cuidar do papai que sempre
foi super dependente dela e dos netos, cinco criaturinhas maravilhosas a quem
ela se dedicava com todo o afeto que sempre lhe foi peculiar. Mas era pouco pra
dona Wanda. Nessa época, eu em uma das férias na Festa de São Pedro, sugeri que
ela começasse a escrever as receitas das delícias que sempre realizou na
cozinha, principalmente as compotas, famosas na família e região.
Dona Wanda começou a escrever, colecionar e compilar as suas próprias
receitas e as das amigas, além de pesquisar com todo mundo e experimentar tudo
o que via, provava e achava que valia a pena. Depois de todos esses anos – e
hoje ela está com 89 anos -, imagina o material que ela produziu e organizou!
São mais de 40 títulos, separados por temas e assuntos, prontos para serem
publicados e compartilhados com todos. Além das pesquisas na internet e do blog
que ela mantém e alimenta com conteúdo da área de gastronomia. Minha sobrinha
Izabella, generosamente, entrou na área, editou e publicou alguns dos títulos.
Pausa!
Pelo meu lado, eu também iniciei a minha carreira profissional como
Arquiteto, formado pelo Mackenzie depois de vir estudar em São Paulo, me casar,
constituir família e ficar por aqui há mais de 40 anos. Desenvolvi a
carreira e trabalhei como diretor de arte, produtor de eventos,
cenógrafo, assessor de imprensa e coordenador editorial em revistas, ao entrar
para o meio editorial. Mas chegou uma hora em que aquilo tudo também já não me
bastava mais. Sempre fui muito curioso e gosto de novos desafios. Quando já sei
tudo sobre o trabalho que estou realizando, já não me atrai mais e preciso de
um outro caminho, que me motive e encante. Papai dizia que eu era muito
fogo de palha, hoje sei que eu sou mesmo é ansioso e não gosto de rotina. Então
estou sempre procurando inovação e oportunidades de novos negócios.
Por um acaso – daqueles que a vida é feita -, depois dos 50 anos,
descobri com uma sobrinha da Doris a Mediação Transformativa de Conflitos e fui
fazer formação, na Escola Superior do Ministério Publico, que naquele ano
iniciava com a primeira turma. Pronto: começar tudo de novo! Escola, um ano de
teoria, mais um ano de prática e lá estava eu, Mediador formado e louco para
atuar. Continuei como voluntário na promotoria e ao conhecer todas as pessoas
envolvidas com esse assunto e depois de fazer alguns cursos de especialização,
detectei junto com a minha amiga, parceira e co-mediadora Alice Penna, que
havia uma lacuna na publicação de livros com esse assunto. Por ser uma
assunto novo no Brasil, os livros brasileiros que a gente usava nos cursos
geralmente não estavam mais sendo editados. O jeito era então xerocar os dos
colegas ou professores, usar os estrangeiros em espanhol ou inglês e as
apostilas indicadas e produzidas pelos mestres. Mas porque ninguém editava
essas pessoas tão brilhantes e referencias na área?
Por mais uma coincidência, fomos visitar uma editora que estava
começando e que tinha uma proposta nova de fazer títulos sobre demanda e
e-books, além de publicar os novos autores e os livros especiais dos autores
conhecidos – aqueles de gaveta e que nenhuma outra editora queria publicar.
Essa proposta da Silvia Ribeiro na Editora Dash, nos encantou e propusemos a
ela criar um selo e publicar os títulos de Mediação. Mais do que isso, criamos
o selo Transformar para ampliar a ideia publicando também tudo o que
fosse novo e transformador, incluindo todas as outras práticas consensuais de
resolução de conflitos.
Começamos a abordar e convidar as pessoas e grupos que já faziam artigos
ou capítulos em livros coletivos e a preparar a publicação de livros que
servissem não apenas como apoio e material didático para os cursos de formação
de Mediadores e advogados, mas também aos leigos, disseminando a cultura da
paz, da colaboratividade e da parceria. Isso está dando muito certo, já
lançamos no ano passado o primeiro título “Uma outra verdade em Mediação” de
Mirian Blanco Muniz e vamos lançar agora em abril no Rio e em São Paulo o segundo
livro: “Caixa de Ferramentas em Mediação” de Tania Almeida. Duas autoras muito
reconhecidas como Mediadoras e mestras e que já exercitavam a escrita, mas
nunca haviam publicado individualmente. Estão na fila para serem editados mais
alguns nomes e livros maravilhosos, que muito vão contribuir para formar e
atualizar mediadores, além de disseminar a cultura da paz e transformar as
relações e a comunicação, como propõe o conceito da Mediação e das Práticas
Colaborativas.
Não satisfeitos apenas com isso, eu e Alice – inseparáveis Dom Quixotes
-, resolvemos ampliar a atuação da Mediação na iniciativa privada, levando para
o corporativo, além do atendimento das partes em conflitos já instalados, a
utilização das ferramentas da Mediação na capacitação dos gestores e equipes,
com o intuito de transformar o ambiente de trabalho, que hoje é muito
competitivo, em colaborativo. A ideia é transformar o ditado popular de
que “manda quem pode e obedece quem tem juízo” em “sozinho vou mais rápido, mas
juntos vamos mais longe e melhor!”.
Estou relatando este meu caminhar para voltar à mamãe e suas receitas:
ao fazer contato com a editora Dash, contei dos títulos prontos da Dona Wanda,
nessa altura uma bisavó muito querida e carinhosa e resolvemos criar a Coleção
da Bisa. Uma compilação das receitas de todos os tipos, mas explicadas
didaticamente pela professora, de uma maneira tão simples e fácil, que todo
mundo pode aprender a cozinhar, ou ampliar e inovar na preparação dos quitutes
para os amigos e família. Começamos então a formatar a primeira caixa de
livros, o “Almoço da Bisa: Arroz, Feijão, Bife e Salada”. Dessa caixa, já
lançamos no ano passado o Arroz e agora em maio sairá o Feijão. Subdivididos em
Arroz+Feijão e Bife+Salada, que com capinhas separadas, pode ser comprado cada
um individualmente, os dois pares o
A Bisa se revelou um grande sucesso editorial e os livros não param de
vender! Foi adotado inclusive como material didático nos cursos de gastronomia
da FMU e outras escolas. Temos na fila várias outras caixas como “Na feira com
a Bisa”, “ Café e chá da tarde na Bisa”, além dos “Segredinhos da Bisa”
-um guia dos curiosos, circulando pela gastronomia.
Voltando ao começo, o que me motivou a escrever esse artigo relatando
esses dois “cases” é que com a expectativa de viver lúcido e produtivo
até os 100 anos. Com as conquistas do conforto, alimentação e da medicina, não
precisamos mais colocar o pijama e ficar em casa ao se aposentar e nem
continuar fazendo uma atividade profissional que não nos agrade, somente para
nos sustentar ou ter o que fazer. Hoje podemos escolher ser feliz e começar uma
outra carreira. Temos tempo de vida, apoio, inteligência emocional e condições
para isso.
Vamos questionar se a vida que estamos vivendo está boa e se a atividade
profissional que estamos fazendo contribui para a nossa felicidade e
longevidade. Senão, já é hora de mudar tudo e começar de novo! Descobrir um
assunto que nos motive e emocione e partir pra luta como se tivéssemos de novo
20 anos.
E se você tem agora 20 anos e está começando uma jornada profissional,
saiba que sempre é possível mudar e se transformar, se atualizar e produzir
cada vez mais. Não somente pra acumular riquezas, mas para ter um propósito
maior e contribuir para a sua própria felicidade, dos seus queridos e para a
felicidade do mundo!
A vida agradece!!!
Nota:
Você pode encontrar os livros da Bisa e de Mediação nas melhores
livrarias do Brasil, além do site da Dash que entrega fisicamente
em qualquer lugar do mundo ou indica o caminho pra você baixar o seu e-book.
E se você tem aquele livro guardado ou a ideia de um maravilhoso, de
qualquer assunto, pode nos procurar que vamos conversar para ver como
viabilizar a publicação e dar vida à sua ideia, contribuindo para a sua
felicidade e o aprendizado ou prazer de todos.
Contextualizando:
Carmen Nogueira Lopez – Tia Carminha, colega de escola e
vizinha da mamãe, que se casou com o Tio Ley. Modelo de alegria e maravilhosa
musicista amadora, que nos alegrava com seu piano e violão. Até hoje com mais
de 80 anos, adora uma roda de samba.
Wanda Maria Ceccato – irmã querida, Wandinha atualmente avó
dedicada de dois meninos maravilhosos, fez a opção pela família, largou a
faculdade mas nunca parou de “trabalhar” para todos como psicóloga clínica.
Izabella Ceccato – minha sobrinha, publicitária durante muitos
anos, resolveu mudar de rumo para fazer o Schumacher College (UK). Hoje está
super envolvida com sustentabilidade e é a fundadora dos portais Eco Rede Social e Eco do Bem financiamento
coletivo.
Doris Bicudo – companheira inseparável de toda uma vida, formou-se em jornalismo,
foi estilista e figurinista com confecção própria, voltou ao editorial e hoje,
além de dirigir a redação de várias revistas customizadas, criou e faz parte do
portal As Meninas on line, reunião de várias meninas
experientes e reconhecidamente referencias em suas áreas de atuação.
Alice Penna e Costa – minha sócia, parceira e co-mediadora, com quem
desenvolvo a edição dos livros e o trabalho na Mediação. Fez uma longa carreira
em Comunicação e RP, teve agencia de publicidade, mas se encantou pela Mediação
e começou tudo de novo! Hoje se divide para cuidar como avó, de duas meninas
gêmeas e fofíssimas.
Silvia Ribeiro – Designer gráfica que trabalhou muitos anos na Companhia das Letras
fazendo as capas dos livros e há dois anos tem a sua própria editora, a Editora Dash.
Entendeu como a coisa funciona?